Muita gente adora leitores digitais como o Kindle por causa da tecnologia envolvida nele. É uma tela claramente mais rústica, mas que tem uma bateria que dura muito e imita mesmo que só um pouquinho, aquela sensação de ler um livro de verdade. Mas você sabe exatamente como esse tipo de painel funciona? Como essa tecnologia começou a ser usada? E por que a gente não vê ele sendo utilizado em outros eletrônicos? Esse é o Entenda, o quadro do TecMundo que explica o que tá por trás das notícias que você lê todos os dias lá no nosso site. Primeiro, a gente vai falar do conceito e da origem da tecnologia. Depois, ver as perspectivas para o futuro e, por fim, porque ela ainda não decolou como o esperado. E a gente precisa fazer uma divisão aqui. E-ink é o termo mais comum, mas ele não é o mais preciso. Na verdade, a tecnologia se chama e-paper, ou papel eletrônico em tradução livre. e-Ink é uma tecnologia licenciada por uma empresa que detém esse nome, e que acabou ficando famoso e virou a palavra genérica de todos os displays desse tipo, mesmo não sendo da companhia. É tipo chamar toda lâmina de barbear de gilete, palha de aço de bombril e por aí vai. O papel eletrônico é formado por diferentes camadas. Nas pontas fica uma proteção transparente que contém eletrodos, enquanto o centro tem o equivalente da tinta, que é quimicamente parecida com a tinta comum, mas na verdade são microcápsulas de pigmentos magnéticos e esféricos de dois tons: claro e escuro. Esses pigmentos possuem cargas opostas e, dependendo de como os eletrodos se comportam, a parte escura ou clara da esfera fica em cima, que é a direção do painel propriamente dito, enquanto os demais pigmentos do outro tom ficam na parte de baixo da bolinha. É assim que são gerados os conteúdos na tela: os pigmentos na cor preta são os responsáveis por formar as letras e imagens. Ou seja, é preciso trabalhar rápido para enviar comandos elétricos diferentes para as inúmeras bolinhas de tinta. E claro que a evolução dessa tecnologia permitiu o uso de tons mistos, criando cores menos intensas e efeitos como sombreados. Essa tecnologia não usa luz para formar as imagens, nem mesmo em versões tipo o Kindle Paperwhite: a iluminação é só para permitir a leitura em ambientes escuros, sem ser usada na formação do conteúdo. Isso deixa tudo o que é exibido em tela o menos artificial possível, inclusive com algumas imperfeições na formação dos visuais. Ele cansa menos a vista e traz menos malefícios do que as telas convencionais, especialmente no uso por muito tempo ou durante a noite. Outra vantagem está na bateria. As telas de papel eletrônico possuem um consumo baixíssimo de energia, já que os componentes são mais simples, o sistema exige menos processamento e só a mudança das cargas dos pigmentos é o que faz o dispositivo trabalhar, não o tempo de exibição em si. Quem teve ou tem um leitor eletrônico sabe como dá pra usar um deles por semanas sem precisar de uma recarga. Histórico A ideia de criar um display que lembrasse um papel normal vem da década de 1970. Pesquisadores do lendário Xerox Palo Alto Research Center, o Parc, chegaram a criar um protótipo, mas ele era muito lento e rudimentar aí nem foi pra frente. Duas décadas depois, surge a figura de Joseph Jacobson, um jovem inventor que retomou essas ideias e é hoje creditado pela criação da micropigmentação. Sua pesquisa de pós-doutorado envolvia “um livro que mudasse de página com um toque”, mas ele também estava travado no processo. Quando ele passa a integrar o Laboratório de Mídia do MIT, o Instituto de Tecnologia do Massachussetts, ele consegue recrutar uma equipe capaz de tirar o papel eletrônico do papel. A primeira patente da tela com os pigmentos encapsulados foi registrada em 1996 e, um ano depois, os pesquisadores J.D. Albert e Barrett Comiskey, junto do professor Jacobson, fundam a empresa e-Ink. Já no final da década seguinte, a marca foi comprada por um conglomerado de Taiwan, o que só fez expandir os negócios. Mas os primeiros frutos não vieram na hora: levou cerca de 7 anos entre as primeiras pesquisas e o lançamento comercial para a chegada da primeira tela da e-ink. E foi só em novembro de 2007 que boa parte do público realmente conheceu o e-paper. Esse é o ano de lançamento do primeiro leitor eletrônico da Amazon, o Kindle, o modelo que popularizou essa tecnologia e consagrou o formato. Aliás, a história do Kindle e a evolução dos e-Readers da Amazon a gente já contou aqui no canal, não deixa de assistir porque é um ótimo complemento. Daí pra frente, foram muitas as aplicações. O papel eletrônico já foi usado como tela em relógios, celulares como tela principal ou secundária, leitores, painéis, indicadores de nível de bateria, banners digitais e em muitos outros produtos. E tem muitas perspectivas de melhora, embora elas sejam bem lentas. Em 2016, as primeiras telas e-ink coloridas foram apresentadas ao mercado e bem devagar elas vão melhorando. A própria empresa e-ink apresentou agora em 2021 uma tecnologia chamada On-Cell Touch, que melhora a resposta da tela sensível ao toque por incluir os sensores já no painel, não como um componente separado. Isso barateia a fabricação desses paineis e também permite que os conteúdos sejam exibidos com mais nitidez e contraste. Em 2020, a Hisense apresentou smartphones com tela e-ink colorida e a desenvolvedora PocketBook mostrou um e-reader com tela de 7,8 polegadas, o que é praticamente um tablet. Beleza, eu já falei de muitos pontos positivos, mas claro que essa tecnologia apresenta os seus problemas. E o principal deles está na taxa de atualização. Esse é o intervalo de tempo de “troca” de conteúdos na tela depois que você dá um comando, seja abrir um aplicativo ou se mexer em um jogo. Telas que suportam a taxa de atualização de 120 Hz já são realidade em dispositivos móveis atuais mais poderosos, enquanto a demora até para virar uma página de livro no e-paper é mais demorada. Por isso, usar ele para a navegação cotidiana e tarefas que exijam mais velocidade não é um grande negócio até hoje. O preço também importa: fabricar um e-paper é comparativamente mais barato, mas os modelos coloridos começaram a encarecer um pouco os produtos finais. Além disso, para muitas marcas, encomendar telas LCD ou OLED em massa compensa mais por causa da demanda: a maioria dos aparelhos já é desse formato e quase ninguém rema contra essa maré. Fornecedoras de displays vendem lotes aos montes e em parcerias já de longa data e mudar essa estratégia comercial é arriscado. Por fim, tem que diga que as patentes estão limitando a expansão da tecnologia, especialmente porque algumas poucas marcas são detentoras de certos componentes. Em resumo, o e-paper é uma tecnologia muito interessante, que criou todo um segmento de eletrônicos. Mas os pontos negativos ainda pesam e ela tem muito caminho pela frente – um caminho que ela até percorre, embora meio devagar. E aí, o que você acha da tecnologia de papel eletrônico? Tem um leitor digital ou sempre quis ter? Qual você acha que é o futuro desse formato? Vamos conversar aqui embaixo nos comentários! Não se esqueça de deixar o seu joinha no vídeo, se inscreva no canal para mais conteúdos como esse e confira a playlist do Entenda para saber do